Saúde
Álcool e tabaco já são risco à zona rural
Prevalência de uso abusivo de álcool é maior entre homens e tabagismo está relacionado a questões socioeconômicas
Paulo Rossi -
Um em cada 12 moradores da zona rural de Pelotas consome bebidas de álcool em quantidades que representam risco para a saúde. É o que mostra o estudo inédito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que investigou o consumo nos oito distritos da zona rural do município. Ainda: outro levantamento aponta que 16,6% dos moradores da zona rural de Pelotas são fumantes. A coleta dos dados integra o inquérito da Pesquisa sobre a Saúde da População Rural de Pelotas, realizada pelo curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia.
Entre janeiro e junho de 2016 o estudo entrevistou 1.519 moradores da zona rural, na faixa etária a partir dos 18 anos. Os participantes responderam a questões sobre a frequência e a quantidade do consumo de bebidas alcoólicas e sobre a preocupação de médico, familiares ou amigos em relação ao hábito do entrevistado. De acordo com as respostas, o escore de oito pontos representaria a classificação de consumo de risco de álcool - em geral, uso excessivo. O escore sinaliza o consumo de bebidas de álcool que começa a gerar danos à saúde de quem bebe: uma agressão pequena ao fígado, uma gastrite, um risco maior de se envolver em acidentes de qualquer tipo, de assumir comportamento violento - explica o autor do estudo, Gustavo Piêgas Jaeger.
“O senso comum propaga que o consumo de bebidas de álcool é alto na zona rural, mas nosso estudo quantifica isso, apresenta dados concretos sobre a questão. Os resultados fornecem subsídios para o planejamento de políticas na região, apontando para estratégias de prevenção do início precoce (antes dos 18 anos) e para intervenções dirigidas em especial ao público masculino”, ressalta.
Tabagismo
Outro dado revela associação entre consumo de tabaco e álcool. O percentual de fumantes é cerca de 50% maior entre aqueles que apresentam algum transtorno relacionado ao consumo de álcool em comparação com os que não apresentam esse tipo de transtorno. Em relação ao tabagismo, os resultados apontam que aproximadamente uma em cada seis pessoas fuma, em média, 14 cigarros por dia. Ainda, 18% dos entrevistados são ex-fumantes, enquanto quase 70% dos que fumam já tentaram abandonar o vício pelo menos uma vez na vida.
O estudo realizou o primeiro levantamento sobre o tabagismo na população rural de Pelotas, investigando a relação com fatores sociodemográficos, comportamentais e de saúde. Os dados mostram que o nível socioeconômico tem influência sobre o consumo de cigarros. O tabagismo é duas vezes maior entre as pessoas das classes D e E em comparação com as das classes A e B. “Os resultados sugerem que políticas públicas de combate ao fumo na região devem levar em consideração as desigualdades sociais. O planejamento deve incluir estratégias de prevenção ao início precoce do vício, com atenção especial aos grupos de menor nível socioeconômico”, afirma a autora do estudo, Mariana Otero Xavier.
Entre o hábito e o vício
A identidade dos entrevistados foi preservada pelos pesquisadores. Entretanto, não foi difícil encontrar casos que se enquadram no estudo. Foram 42 anos dependentes do tabaco. “Eu fumava qualquer cigarro. Uns 200 por dia, desde os nove anos”, conta Darci San Martins - que salienta não estar exagerando nos números. Aposentado, lembra ter parado de fumar pela segunda vez aos 51 anos - a primeira tentativa foi aos 46, quando teve problemas nos rins. Na época, também ingeria bebidas alcoólicas. “Eu era músico, tocava nos bailes. A cada apresentação ia um engradado de cerveja”, resume. Segundo ele, as apresentações ocorriam geralmente três vezes por semana. Hoje, aos 60 anos, a rotina é bastante diferente: sem álcool e sem cigarro. “Agora não entra bebida aqui em casa”, garante o morador do Monte Bonito.
Sua esposa, a dona de casa Leci San Martins, apesar de gostar de vinho, não consome bebidas de álcool, mesmo fora de casa - mas não por causa do marido, e sim por problemas de hipertensão (pressão alta). Com o cigarro enrolado à mão entre os dedos, a idosa de 63 anos afirma não inalar a fumaça e nega vícios. “Eu não trago o cigarro, é só um hábito”, sorri. Também moradora da região do Monte Bonito, a aposentada Sueli Oliveira Soares, de 73 anos, não admite ser dependente do tabaco - apesar de fumar desde os nove ou dez anos de idade e nunca ter largado, como lembra. “Nunca tive falta de ar, problemas pelo cigarro. A hora que eu quiser eu paro”, frisa, confiante.
Consumo de álcool
Os resultados apontam que 8,4% de pessoas com consumo de risco de álcool.
- A prevalência é maior entre os homens - com proporção de oito homens para cada mulher com consumo de risco;
- Quanto mais jovem, maior a propensão ao comportamento: o consumo de risco é mais frequente entre os jovens de 18 a 24 anos do que entre os adultos de 25 a 39 anos;
- Porém, nessas duas faixas etárias o consumo de risco é três vezes maior do que na faixa etária a partir dos 60 anos;
- Há prevalência de consumo entre os que vivem sem companheiro e experimentaram o álcool antes dos 18 anos;
- Os índices de consumo de risco foram menores entre os praticantes de religião evangélica.
Tabagismo
No total, pelo menos 16,6% dos moradores da zona rural de Pelotas são fumantes.
- O número de fumantes é maior entre 30 e 59 anos;
- A proporção é duas vezes superior entre os homens em relação às mulheres - com percentuais de 21,9% no grupo masculino e 11,6% no feminino;
- A maioria (57,6%) tem preferência pelo consumo do cigarro de papel enrolado à mão;
- As menores frequências de fumo são observadas nos mais jovens - 18 a 29 anos - e nos idosos - 60 anos ou mais;
- Em média, o consumo inicia aos 16 anos de idade.
Os oito distritos
Cascata, Cerrito Alegre, Colônia Z-3, Monte Bonito, Quilombo, Rincão da Cruz, Santa Silvana e Triunfo.
O levantamento completo da Pesquisa sobre a Saúde da População Rural de Pelotas avaliou os seguintes fatores:
- Consumo de álcool
- Consumo de tabagismo
- Depressão
- Qualidade de vida
- Qualidade do sono
- Atividade física
- Alimentação
- Obesidade geral e abdominal
- Serviços de saúde
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